Niilismo

A minha frente à folha em branco
Pedindo para colocar sentimento
Em forma de palavra.
A música que toca
Inspira e comove,
Acorda lembrança,
Desperta saudade.
Na cabeça as ideias giram
De maneira complexa,
Desconexa,
Colocando inicio no fim,
Fim no meio,
Meio sem conexão com nada.
Lá fora o vento sibila,
O trovão abala os sentidos,
O relâmpago cria um brilho,
Chega um insight...
Fragmento de ideia,
De imagem remanescente de um sonho antigo
Guardado no inconsciente.
Na rua as pessoas seguem seu destino,
Apressadas,
Enlouquecidas,
Preocupadas,
Carregadas de pacotes,
Dando moral para o garoto propaganda da Coca-Cola.
As casas todas enfeitadas,
Luzes coloridas,
Desejos artificiais,
Arvores de natal,
Presépios iluminados,
Mas o motivo da festa
Esquecido para depois dos fogos.
Loucura e alienação,
Inocentes e culpados,
Vitimas e carrascos,
Guerra e paz,
Cotidiano dos telejornais.
Nada mais faz sentido,
Nenhuma palavra serve como resumo,
Nenhum sentimento sobrevive às fúrias,
Nenhum anjo se apresenta para dar fim aos castigos,
Apenas seguimos em frente,
Olhando para o próprio umbigo,
Descrentes do amor,
Crentes de conveniência,
Caridosos para tirar vantagem.
Acendemos uma vela para Deus
E cem para o Diabo,
Fazemos discursos,
Fazemos pose,
Apontamos o dedo,
Julgamos e condenamos,
Mas caímos nas mesmas tentações.
Pregamos o fim do mundo,
Alertamos sobre o aquecimento,
Criticamos o governo,
Mas não propomos meios de fazer diferente,
Sabemos apenas mostrar o defeito
Não temos competência para criar soluções.
O mundo anda a se acabar por nada,
Por trocados espúrios,
Enquanto uma geração será massacrada,
Outra abortada pela ganancia,
Seremos herdeiros da cinza,
Da ruína e miséria,
Iremos caminhar no vale da sombra da morte,
Mas sem temer mal algum,
Porque iremos reconstruir,
Levantar da lama,
Retirar dos escombros outro tipo de fé,
Um novo sentido para a palavra razão
Para fazermos tudo de novo,
Cometendo os mesmo erros de nossos pais e avôs.